terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

CRÍTICA Publicada em Recife / PE

Especial para o NE10

O  gênero do monólogo no teatro é lembrado muitas vezes por ter um texto pesado e talvez até maçante. Não é o caso dessa peça gaúcha que estreou na quinta-feira (12) no intimista Teatro Marco Camarotti, em Santo Amaro. A atriz Vanise Carneiro possui um magnetismo digno dos ícones da época de ouro do cinema americano. Ela cativa a imaginação do espectador do começo ao fim do espetáculo, com muita leveza e provocando risos e muita identificação entre o público.

A fragmentação do texto de '9 Mentiras Sobre a Verdade', na condução da atriz e com o excelente trabalho técnico de som e iluminação, acaba por ter transições suaves de uma cena para outra. Quem assina o roteiro é o respeitado Diones Camargo.

Vanise está bem afinada com o papel de uma atriz aspirante, porém dona-de-casa, com alguns trabalhos de figuração em filmes. "Os figurantes não falam", ela ressalta em determinado momento. Daí a grande sacada da narrativa se passar numa uma espécie de grupo de apoio para mentirosos compulsivos, onde ela pode a visibilidade que necessita. O que caracteriza a personagem é principalmente o figurino, que se transforma sutilmente de acordo com a faceta de sua vida a ser apresentada. Memórias sobre relacionamentos amorosos e familiares tem espaço importante em cena, com representações em flahsback bastante estilizadas.

O uso de uma tela de fundo para exibição de elementos visuais breves está integrado com a proposta da peça, de fazer um diálogo entre teatro e cinema. A sonoplastia é excelente, com sincronia bem feita e efeitos bastante imersivos. Um dos desafios ao assistir a apresentação é adivinhar quais são os filmes cujas histórias a personagem Lara se apropria, de uma forma surpreendentemente discreta até certo ponto.

Passagens de dois filmes icônicos de Ridley Scott surgem, por exemplo, além de outros clássicos que um razoável frenquentador de cinema deve perceber. As frases de sabedoria que pontuam a narrativa, propiciando também uma unidade temática, até lembram a fase áurea da filmografia de Jean-Luc Godard, sendo batizadas por Lara de ''anotações mentais''. Uma das mais memoráveis: ''a vida é cheia de erros de continuidade''.


Crítica publicada por ocasião das apresentações no 18º Janeiro de Grandes Espetáculos - Festival Internacional de Recife. Para ler o texto no site original CLIQUE AQUI.




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